Os novos caminhos alternativos da nona arte no Brasil

Painéis do Festival Guia dos Quadrinhos discutem hq autoral no Brasil

Painéis do Festival Guia dos Quadrinhos discutem hq autoral no Brasil

05.11.2020
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Post original em: 18.04.2019
Durante muitos anos, as grandes editoras de quadrinhos no Brasil, sempre muito atreladas a contratos internacionais, desprezaram o autor nacional. Desenhistas, roteiristas e muitos artistas criativos tiveram seus trabalhos engavetados. O caminho da arte até o consumidor era árduo e custoso. Eram horas intermináveis de trabalho solitário na frente de uma prancheta, para no final de tudo, não ter o que fazer com a sua obra.
Nos anos 60, o presidente João Goulart assinou um decreto-lei (https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-52497-23-setembro-1963-392527-publicacaooriginal-1-pe.html) que pretendia incentivar a produção de quadrinhos, como já acontecia com o cinema nacional. As editoras deveriam manter uma produção mínima de títulos nacionais: iniciando com 30% em 1964, subindo gradativamente, até atingir 60% em 1966. O governo de João Goulart foi deposto no ano seguinte e nunca mais se falou sobre o assunto. Além disso, em 1965, foi sancionado um projeto de lei que proibia a impressão e circulação de revistas de crime, terror ou violência, temas predominantes nas hqs da época.
As historietas em quadrinhos sofrem um grande revés e o autor nacional continuaria abandonado. Se nos Estados Unidos dos anos 50, os editores se uniram contra medidas semelhantes criando seu próprio órgão regulamentador de censura, o Comics Code Authority e protegendo a produção cultural e seus artistas de comics, aqui no Brasil, as parcas editoras existentes não perderam tempo com isso e trataram de abrir e renovar mais contratos internacionais.
Desde essa época, a estrutura política e econômica do país não favorecendo os artistas, acabava por fomentar a clandestinidade e o advento dos primeiros trabalhos autorais, como por exemplo, a obra pornográfica de Carlos Zéfiro, que publicou e distribuiu com seus próprios recursos 600 edições em quadrinhos de uma série apelidada de "Catecismo" entre 1950 e 1980.
Mas, eis que surge a internet, encurtando distâncias, ampliando relacionamentos entre as pessoas e democratizando o acesso à informação. Os autores passam a conhecer experiências uns dos outros e o acesso a tecnologia muda a cara de tudo. O processo de criação passou a utilizar-se de recursos e softwares que agilizaram e padronizaram uma alta qualidade estética das obras finais e sobrou tempo para os autores correrem atrás dos meios de produção, como gráficas, indústrias papeleiras, etc.. Enfim, artistas tornam-se editores.
Surgia oficialmente o quadrinho autoral no país. Indo contra tudo que se conhecia até então no que diz respeito a produção de hqs nos maiores mercados do mundo, ainda que não fosse uma produção realmente massiva.
Parecia estar tudo resolvido. Não depender da estrutura de uma editora conferia grande independência aos autores em todos os sentidos. Mas, então surge um novo desafio: Como distribuir o que foi produzido?
Já que falamos de internet, por que não disponibilizar tudo na rede? Parece que este formato ainda não é o preferido de autores e, mesmo editores. Talvez por culpa do público que acha que tudo que está na web deve ser gratuito ou, ainda por "culpa" do público que gosta de ter o material impresso em mãos.
Recentemente, no painel "Como formar novos leitores" realizado no Festival Guia dos Quadrinhos 2019 em São Paulo/SP o cartunista Jal que trabalha com Maurício de Souza explicou porque os estúdios da Turma Mônica rejeitaram a migração para o mundo virtual: "Nós temos, hoje no Brasil 10 milhões de pessoas que compram nossos gibis impressos, porque mudaríamos isso? No mesmo painel ele foi apoiado pela professora Sônia Luyten (pesquisadora especialista há 50 anos em histórias em quadrinhos e na cultura pop do Japão) que lembrou que no Japão, apesar de toda a tecnologia que é símbolo do país, o mangá impresso é mais forte que qualquer produção virtual, vendendo em média 2 milhões de exemplares por dia!
Assim, parece que a distribuição física é, mesmo, o desafio para o mercado de quadrinhos. A Editora Culturama iniciou a publicação das histórias em quadrinhos mensais da Disney no Brasil em março de 2019 com uma estratégia de distribuição inovadora: “Queremos colocar as histórias em quadrinhos em mercados alternativos, onde nossa editora já atua", afirmou O diretor da empresa, Fabio Hoffmann, em seu website. Os mercados alternativos em que a editora atua são papelarias, lojas de preço único, bazares, supermercados e outros.
Ainda assim, para o produtor independente, este não é o caminho utilizado. O negócio tem sido vender tudo antecipadamente pelos sistemas de crowdfunding - financiamento coletivo pela internet - ou diretamente para os consumidores em feiras e eventos especializados. Ou seja, um formato que vai contra grandes tiragens e massificação, prezando mais a qualidade.

PAINEL DE EXPOSITORES AUTORAIS NO FGDQ 2019

FGDQ 2019


Por: Paulo Franco Rosa (jornalista, editor e roteirista)

FOTO: Capa de revista em quadrinhos autoral de Francisco Marcatti

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